Definir qual foi o “primeiro livro” da história depende de como se entende o termo “livro”. Se considerarmos livro como qualquer obra escrita que apresenta uma narrativa ou conjunto coerente de textos, o título provavelmente pertence à Epopeia de Gilgamesh, criada na antiga Mesopotâmia, por volta de 2100 a.C. A obra foi gravada em tábuas de argila usando a escrita cuneiforme e reúne doze capítulos que narram as aventuras do rei Gilgamesh, governante da cidade de Uruk. Misturando elementos históricos, mitológicos e filosóficos, o texto aborda temas universais como a amizade, a busca pela imortalidade e o sentido da vida, mostrando que, desde os primórdios, a literatura já explorava questões profundas da condição humana (DALLEY, 1991).

A Epopeia de Gilgamesh é atribuída a vários autores anônimos, pois foi transmitida e adaptada ao longo dos séculos por diferentes escribas. Sua versão mais conhecida foi organizada por volta do século VII a.C. na biblioteca do rei assírio Assurbanípal, em Nínive, onde centenas de tábuas foram preservadas. A estrutura da obra combina trechos poéticos e narrativos, o que a torna um exemplo primitivo da fusão entre poesia e prosa. Além disso, o texto oferece uma visão rica sobre as crenças, os valores e a organização social da Mesopotâmia, servindo tanto como documento literário quanto como registro histórico de uma das primeiras civilizações (KOVACS, 1989).

Embora a Epopeia de Gilgamesh seja frequentemente considerada o primeiro “livro” escrito, é importante lembrar que, na Antiguidade, a ideia de livro como objeto encadernado não existia. As obras eram preservadas em tábuas, pergaminhos ou papiros, muitas vezes fragmentados. Assim, o conceito moderno de livro só surgiu séculos depois, com a invenção do códice pelos romanos, no início da Era Cristã. No entanto, a Epopeia permanece como um marco da literatura mundial, não apenas por sua antiguidade, mas também por sua capacidade de dialogar com leitores de qualquer época, mostrando que as grandes questões humanas atravessam milênios sem perder relevância (SANDARS, 1972).

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