A literatura na Idade Média se desenvolveu na Europa entre os séculos V e XV, período compreendido entre a queda do Império Romano do Ocidente (476) e a transição para o Renascimento, no século XV. Foi um tempo marcado pela forte influência da Igreja Católica, que não apenas controlava aspectos políticos e sociais, mas também determinava grande parte da produção cultural. A escrita e a leitura eram restritas à elite letrada, formada principalmente por clérigos e membros da nobreza.

O contexto histórico medieval foi marcado pelo sistema feudal, pela descentralização política e por constantes conflitos, como as Cruzadas (1096–1291), que influenciaram temas e narrativas literárias. A religiosidade estava no centro da vida social, e, por isso, a literatura tinha um caráter moralizante, buscando ensinar valores cristãos.

A produção literária medieval é geralmente dividida em dois grandes gêneros: a literatura religiosa e a literatura profana. A primeira incluía sermões, hagiografias (biografias de santos), poemas religiosos e peças de teatro sacro, como os “autos” e “mistérios”, encenados em praças para instruir o povo. Obras como as de Santo Agostinho (Confissões, 397–400) influenciaram profundamente a espiritualidade e a filosofia do período.

A literatura profana, por sua vez, abrangia cantares, épicos e narrativas de cavalaria, muitas vezes transmitidos oralmente pelos trovadores. Um exemplo famoso é A Canção de Rolando (século XI), na França, que exaltava o heroísmo e a lealdade feudal. Também surgiram romances de cavalaria, como as histórias do rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda.

Em Portugal e na Galícia, entre os séculos XII e XIV, desenvolveu-se o Trovadorismo, com suas cantigas líricas (de amor e amigo) e satíricas (de escárnio e maldizer). No Brasil, a influência da literatura medieval chegou somente com a colonização portuguesa, no século XVI.

Politicamente, a Idade Média também assistiu ao surgimento das primeiras universidades (séculos XII e XIII), que ajudaram a preservar e transmitir conhecimentos clássicos. A partir do século XIV, com o crescimento urbano, o comércio e as crises do feudalismo, a literatura começou a se transformar, incorporando temas mais humanos e preparando o terreno para o Humanismo e o Renascimento.

A literatura medieval é, portanto, um reflexo do mundo feudal e religioso, mas também é um registro vivo das transformações políticas, sociais e culturais que moldaram a Europa durante mil anos.

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Referências

  • AUGUSTINHO, Santo. Confissões. Hipona, 397–400.
  • A Canção de Rolando. França, século XI.
  • LE GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Estampa, 1994.
  • ZUMTHOR, Paul. A Letra e a Voz: A Literatura Medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

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