Eliminar um personagem é uma decisão narrativa que pode ter grande impacto na história e na experiência do leitor. Desde a Antiguidade, essa técnica é usada para gerar emoção, criar viradas dramáticas ou reforçar temas centrais. Na tragédia grega Antígona, escrita por Sófocles por volta de 441 a.C., a morte das personagens principais serve para intensificar o conflito entre leis humanas e divinas. No contexto da Idade Média, marcada por guerras e epidemias como a Peste Negra (1347–1351), obras literárias…

No século XIX, com o Realismo e o Naturalismo, a eliminação de personagens passou a ter função mais social e psicológica. Em Madame Bovary (1857), Gustave Flaubert retrata a morte da protagonista como consequência inevitável de suas escolhas e do contexto moral da França do Segundo Império. No Brasil, José de Alencar e Machado de Assis também usaram a saída ou morte de personagens para dar profundidade psicológica e provocar reflexões sobre a sociedade de sua época.

No século XX, a literatura e o cinema, influenciados pelas guerras mundiais, exploraram a morte de personagens para transmitir o horror e a imprevisibilidade dos conflitos. Em O Velho e o Mar (1952), de Ernest Hemingway, a morte não recai sobre o protagonista, mas sobre o peixe que simboliza sua luta, representando perdas inevitáveis da vida.

Para eliminar um personagem de forma eficaz, algumas estratégias narrativas se destacam. A primeira é dar significado à saída: a morte ou partida deve estar conectada ao enredo ou ao arco emocional de outros personagens. Por exemplo: “Quando Clara se foi, levou consigo o silêncio da casa e deixou no ar um perfume que não se dissipou por semanas.”

A segunda é preparar o leitor emocionalmente, deixando pistas sutis para que o evento, mesmo chocante, pareça coerente. A terceira é usar o impacto como ponto de virada, alterando o rumo da história após a saída. Em narrativas de suspense ou guerra, a eliminação inesperada de um personagem pode aumentar a tensão e mudar a dinâmica dos sobreviventes.

A quarta é mostrar as consequências. Não basta retirar o personagem; é importante mostrar como sua ausência afeta os outros e o mundo da história. Esse recurso foi muito usado por Gabriel García Márquez em Cem Anos de Solidão (1967), onde a perda de cada personagem afeta a continuidade e o destino da família Buendía.

Eliminar um personagem, portanto, é mais do que encerrar uma presença na trama: é criar um momento de significado, seja para aprofundar temas, desenvolver outros personagens ou surpreender o leitor. Desde Sófocles até a ficção contemporânea, essa técnica se mantém como uma das mais poderosas ferramentas narrativas.

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