
Declamar um poema é mais do que simplesmente ler versos em voz alta. É transformar palavras escritas em experiência viva para quem ouve. Ao declamar, o intérprete empresta ao texto sua voz, emoção e interpretação, criando uma ponte entre o autor e o público. Uma boa declamação não exige ser ator profissional, mas sim compreender o sentido do poema e transmiti-lo com autenticidade.
O primeiro passo é entender o texto. Antes de declamar, leia o poema várias vezes em silêncio e depois em voz alta. Procure entender o tema, a emoção predominante e a mensagem que o autor quer passar. Por exemplo, no poema José de Carlos Drummond de Andrade, a repetição do nome “José” transmite exaustão e desesperança; já em O Navio Negreiro de Castro Alves, o tom é indignado e dramático. Essa percepção ajudará na escolha da entonação.
Depois, é essencial trabalhar a respiração e a dicção. Uma respiração controlada evita pausas fora de lugar e ajuda a projetar a voz. Experimente inspirar pelo nariz, enchendo o abdômen, e soltar o ar lentamente enquanto recita. Para a dicção, pratique ler trava-línguas ou pronunciar claramente cada sílaba, sem correr. Por exemplo, recitar devagar a frase “Três pratos de trigo para três tigres tristes” pode melhorar a articulação.
Outro aspecto é o ritmo. Cada poema tem sua musicalidade própria. Poemas rimados costumam ter cadência mais marcada, enquanto poemas livres permitem variação maior no tempo das pausas. Uma boa prática é marcar no texto, com lápis, os momentos em que você deve respirar ou enfatizar certas palavras. No verso de Manuel Bandeira “Vou-me embora pra Pasárgada”, a pausa após “embora” reforça o tom de decisão e ruptura.
A expressão corporal também conta. O corpo deve acompanhar a emoção do texto, mas sem exageros teatrais que tirem a atenção das palavras. Pequenos gestos, um olhar direcionado ou mudança sutil de postura podem intensificar a mensagem. Ao declamar um poema sobre tristeza, por exemplo, baixar levemente a cabeça e suavizar o tom de voz cria proximidade emocional com a plateia.
Por fim, a conexão com o público é fundamental. Olhe para quem está ouvindo, varie o volume e a velocidade conforme a intensidade dos versos e permita-se sentir o poema. Uma declamação memorável é aquela em que o ouvinte percebe que o intérprete realmente viveu cada palavra.
Exemplo prático:
Pegue o poema Soneto de Fidelidade de Vinicius de Moraes. Leia primeiro para entender seu tom romântico e reflexivo. Depois, marque as pausas após frases importantes como “De tudo, ao meu amor serei atento” e “Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto”. Ao declamar, mantenha uma entonação suave, aumentando levemente a intensidade na última estrofe para transmitir a emoção do desfecho.
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