
A trama é a sequência estruturada de eventos que conduz a história do início ao fim. Ela é diferente do enredo no sentido de que se refere não apenas à ordem dos acontecimentos, mas à forma como eles se entrelaçam, criando tensão, surpresa e sentido. Na ‘Poética’ (século IV a.C.), Aristóteles já destacava que uma boa história precisa ter unidade de ação, onde cada evento leva naturalmente ao próximo.
O primeiro passo para criar uma trama é definir o conflito central e pensar nos pontos-chave que irão transformá-lo. Em ‘1984’ (1949), George Orwell constrói uma trama em que o protagonista Winston Smith se rebela contra um regime totalitário — conflito que vai se intensificando até o desfecho trágico. A tensão cresce de forma orgânica, cada cena alimentando a próxima.
O segundo passo é escolher a estrutura. A trama pode ser linear, como em ‘O Primo Basílio’ (1878), de Eça de Queirós, ou fragmentada, como em ‘Ulisses’ (1922), de James Joyce, que utiliza múltiplos pontos de vista e tempos narrativos. A escolha da estrutura afeta o ritmo e a experiência do leitor.
O contexto histórico e político influencia profundamente a construção da trama. Imagine um drama ambientado no Brasil de 1968, ano marcado pelo AI-5 e pela intensificação da censura: qualquer ação dos personagens precisa refletir as restrições e o clima de medo da época. Da mesma forma, uma trama passada na França de 1789, em plena Revolução Francesa, terá inevitavelmente elementos de instabilidade social e luta pelo poder.
Outro aspecto importante é criar subtramas que dialoguem com a principal. Em ‘Os Miseráveis’ (1862), de Victor Hugo, a trama principal acompanha Jean Valjean em sua busca por redenção, enquanto subtramas exploram a vida de outros personagens, ampliando o panorama social da França pós-napoleônica. Essas histórias paralelas enriquecem o universo narrativo.
A progressão dramática é o que mantém o leitor engajado. Cada cena deve contribuir para a evolução da trama, seja elevando a tensão, revelando informações ou aprofundando personagens. Reviravoltas bem planejadas — como a revelação de um segredo ou uma mudança inesperada de alianças — dão vitalidade à narrativa.
Por fim, a resolução deve ser coerente com o que foi construído. Pode ser conclusiva ou deixar pontas soltas, mas sempre precisa respeitar a lógica interna da trama. Um final apressado ou sem relação com os eventos anteriores pode frustrar o leitor.
Criar uma trama é, portanto, como tecer um tecido: cada fio (evento) é importante, mas é o entrelaçamento deles que dá forma e beleza à obra.
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