O Barroco na literatura foi um movimento cultural e artístico que se desenvolveu na Europa e na América entre o final do século XVI e o início do século XVIII, aproximadamente entre 1580 e 1750. Surgiu como expressão da tensão espiritual e cultural provocada pelas transformações religiosas, políticas e sociais da época. Foi fortemente influenciado pela Contrarreforma, movimento liderado pela Igreja Católica como resposta à Reforma Protestante (1517).

O contexto histórico do Barroco está marcado por profundas mudanças: o avanço das monarquias absolutistas, o fortalecimento da Igreja Católica, as disputas entre católicos e protestantes, a expansão marítima e colonial e as crises econômicas e sociais decorrentes de guerras e desigualdades. Politicamente, era um tempo de instabilidade, o que se refletia na literatura através de temas de transitoriedade, contradição e conflito entre o mundo espiritual e o terreno.

A literatura barroca é caracterizada pelo uso de uma linguagem elaborada, repleta de metáforas, antíteses e paradoxos, explorando a oposição entre valores opostos, como vida e morte, céu e terra, corpo e alma. Também há forte presença do conceito de vanitas, que remete à fugacidade da vida e à inevitabilidade da morte.

Na Espanha, o Barroco literário teve como grandes nomes Luís de Góngora, mestre do cultismo, estilo que priorizava a forma, a riqueza vocabular e a complexidade das imagens poéticas, e Francisco de Quevedo, representante do conceptismo, que valorizava o jogo de ideias e conceitos.

Em Portugal, o maior nome do Barroco foi o Padre Antônio Vieira (1608–1697), famoso por seus sermões que combinavam eloquência, argumentação lógica e defesa dos valores cristãos. Gregório de Matos (1636–1696), conhecido como o “Boca do Inferno”, foi o principal poeta barroco brasileiro, mesclando poesia satírica, religiosa e amorosa, sempre com ironia e crítica social.

No Brasil, o Barroco literário floresceu no contexto da colonização portuguesa, especialmente na Bahia e em Minas Gerais, estando ligado também ao Barroco nas artes visuais e na arquitetura. Essa literatura revelava tanto o peso da religiosidade imposta pela metrópole quanto a tensão vivida na sociedade colonial.

O movimento começou a declinar no século XVIII, dando lugar ao Arcadismo, que pregava simplicidade e retorno à natureza. No entanto, o Barroco deixou um legado duradouro, influenciando a língua, a retórica e a estética literária, além de servir como testemunho de um período de intensos contrastes históricos e culturais.

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Referências

  • MATOS, Gregório de. Obra Poética. Rio de Janeiro: Agir, 1960.
  • VIEIRA, Antônio. Sermões. Lisboa: Officina Craesbeeckiana, 1679.
  • GÓNGORA, Luís de. Soledades. Madri: Imprenta Real, 1613.
  • QUEVEDO, Francisco de. Los Sueños. Madri: Imprenta Real, 1627.
  • CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2000.

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