O conto é uma narrativa curta, mas capaz de provocar grande impacto. Sua força está na concisão: cada palavra deve ter um propósito. Esse gênero tem raízes antigas — no século XIV, ‘O Decamerão’ de Giovanni Boccaccio já apresentava histórias curtas e intensas, muitas com críticas sociais. No Brasil, o conto ganhou força no século XIX, com autores como Machado de Assis, que publicou textos emblemáticos como ‘A Cartomante’ (1884), explorando ironia e psicologia dos personagens.

O primeiro passo para escrever um conto é definir um núcleo dramático. Ao contrário do romance, que pode desenvolver múltiplas tramas, o conto gira em torno de um único conflito ou situação. Por exemplo, imagine um conto passado em Lisboa, em 1974, no dia da Revolução dos Cravos: um soldado, diante de uma multidão pacífica, precisa decidir se cumpre as ordens de atirar ou se se junta ao povo. Esse momento único sustenta toda a narrativa.

O segundo passo é definir o tom e o foco. Alguns contos exploram atmosferas de suspense, como Edgar Allan Poe fez em ‘O Coração Delator’ (1843), enquanto outros se voltam para o lirismo e a observação da vida cotidiana, como nos textos de Clarice Lispector, especialmente ‘Feliz Aniversário’ (1960). Escolher o tom define a linguagem, o ritmo e a forma como o leitor sentirá a história.

No conto, o contexto histórico e político pode ser decisivo para dar profundidade. Um conto ambientado em São Petersburgo, em 1917, durante a Revolução Russa, terá uma carga emocional e simbólica completamente diferente de outro situado em Nova Iorque após o 11 de Setembro de 2001. A época influencia os diálogos, os valores e até os objetos presentes na narrativa.

A estrutura do conto é geralmente mais enxuta: introdução rápida, desenvolvimento focado e um desfecho marcante. Esse final pode ser fechado — resolvendo o conflito — ou aberto, deixando o leitor refletir. Um exemplo é ‘A Terceira Margem do Rio’ (1962), de Guimarães Rosa, que encerra de forma enigmática, criando um espaço de interpretação pessoal.

Além disso, é fundamental trabalhar a economia de linguagem. No conto, cada frase deve carregar peso narrativo ou simbólico. Descrições extensas precisam ser substituídas por imagens precisas e significativas, capazes de condensar muito em poucas linhas.

Escrever um conto é, portanto, um exercício de precisão e impacto. É capturar um instante — real ou inventado — e transformá-lo em algo inesquecível para o leitor.

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