O enredo é a estrutura que sustenta toda a narrativa. Ele organiza os eventos de forma lógica ou propositalmente desconexa para transmitir uma mensagem, criar emoção e manter o leitor interessado. Desde a Antiguidade, estudiosos como Aristóteles, em ‘Poética’ (século IV a.C.), já observavam que uma boa trama deve ter começo, meio e fim, além de apresentar conflitos que impulsionem a história.

Um bom ponto de partida para criar um enredo é definir o conflito central. Sem conflito, não há história. Por exemplo, em 1866, o escritor francês Júlio Verne publicou ‘Vinte Mil Léguas Submarinas’, cujo enredo gira em torno da perseguição e descoberta do submarino Náutilus. O mistério e a tensão mantêm o leitor engajado do início ao fim. O conflito pode ser externo — como guerras, perseguições políticas, catástrofes naturais — ou interno, quando o personagem luta contra seus próprios dilemas e fraquezas.

O segundo passo é estabelecer a progressão da trama. Muitas histórias seguem a ‘Jornada do Herói’, estrutura popularizada por Joseph Campbell em 1949: um personagem comum é chamado para a aventura, enfrenta provações e retorna transformado. Esse modelo é visível em narrativas tão distintas quanto ‘Odisseia’ de Homero (c. VIII a.C.) e ‘O Senhor dos Anéis’ (1954) de J.R.R. Tolkien.

O contexto histórico e político dá forma ao enredo e o torna mais verossímil. Imagine um romance situado no Chile em 1973, durante o golpe militar contra Salvador Allende: o conflito principal poderia envolver um jornalista tentando salvar documentos antes da chegada das tropas. Já um enredo passado em Nova Iorque em 1929 poderia girar em torno de uma família tentando sobreviver à Grande Depressão após o crash da bolsa de valores.

Outra estratégia eficaz é criar subtramas que enriqueçam a narrativa principal. Em ‘Os Miseráveis’ (1862), Victor Hugo intercala a luta de Jean Valjean para se redimir com histórias paralelas de personagens como Fantine e Gavroche, criando um mosaico complexo que reflete as tensões sociais da França pós-napoleônica.

Por fim, é essencial planejar o clímax e a resolução. O clímax é o momento de maior tensão — a batalha final, a revelação inesperada, a escolha impossível. A resolução amarra as pontas soltas, mas não precisa responder a todas as perguntas, deixando espaço para interpretação ou continuação.

Criar um enredo é, portanto, um exercício de equilíbrio: entre conflito e solução, ação e pausa, previsibilidade e surpresa. É nele que a história ganha ritmo e sentido, tornando-se memorável para o leitor.

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