A literatura na Pré-História não se manifestava por meio da escrita, já que esse período antecede o surgimento dos sistemas de registro gráfico, ocorrido por volta de 3.500 a.C. na Mesopotâmia. No entanto, é possível falar de uma “literatura oral pré-histórica” como o conjunto de narrativas, mitos, canções e tradições transmitidas de geração em geração por meio da fala, dos gestos, das danças e das artes visuais, como as pinturas rupestres.

O contexto histórico da Pré-História se estende desde o surgimento dos primeiros hominídeos até o aparecimento da escrita. Ela se divide em três grandes períodos: Paleolítico (c. 2,5 milhões – 10.000 a.C.), Mesolítico (c. 10.000 – 8.000 a.C.) e Neolítico (c. 8.000 – 3.500 a.C.). No Paleolítico, grupos humanos eram nômades, caçadores e coletores, e a comunicação oral servia para transmitir conhecimentos sobre caça, sobrevivência e crenças religiosas. No Neolítico, com a sedentarização e o surgimento da agricu…

As “narrativas literárias” dessa época tinham forte vínculo com o ambiente e a espiritualidade. Muitos povos criavam mitos para explicar fenômenos naturais, a origem do mundo e o ciclo da vida e da morte. Essas histórias eram contadas ao redor do fogo e reforçavam a coesão social do grupo. As artes rupestres, como as encontradas nas cavernas de Lascaux (França, c. 17.000 a.C.) ou na Serra da Capivara (Brasil, c. 25.000 a.C.), também desempenhavam papel narrativo, registrando cenas de caça, rituais e event…

Do ponto de vista político, a oralidade na Pré-História era uma ferramenta de organização social. As histórias passavam ensinamentos e valores, determinavam papéis dentro do grupo e preservavam tradições, funcionando como um “código cultural” antes das leis escritas. A figura do narrador ou ancião tinha grande prestígio, pois era responsável por transmitir o conhecimento ancestral.

Com o surgimento da escrita na Idade Antiga, essa herança oral passou a ser registrada, transformando-se na literatura escrita que conhecemos hoje. Assim, a “literatura” pré-histórica, embora não tenha deixado textos no sentido moderno, representa a base da expressão literária humana, pois dela vieram os mitos fundadores, os arquétipos narrativos e a necessidade de contar histórias.

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Referências

  • LEACOCK, Eleanor Burke; LEE, Richard B. Politics and History in Band Societies. Cambridge: Cambridge University Press, 1982.
  • LEROI-GOURHAN, André. O Gesto e a Palavra. Lisboa: Edições 70, 1983.
  • CHAUVET, Jean-Marie. A Caverna de Chauvet: A mais antiga galeria de arte do mundo. Lisboa: ASA, 1996.
  • CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

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