
O Humanismo na literatura foi um movimento cultural e intelectual que se desenvolveu na Europa entre o final da Idade Média e o início do Renascimento, aproximadamente entre 1350 e 1527. Ele marcou uma transição entre a visão medieval, centrada em Deus e na religiosidade, e a nova mentalidade renascentista, que colocava o ser humano como centro das reflexões artísticas, filosóficas e científicas.
O contexto histórico do Humanismo está ligado ao fortalecimento das cidades, ao desenvolvimento do comércio, ao surgimento da burguesia e às mudanças políticas que enfraqueceram o sistema feudal. A redescoberta dos textos clássicos greco-romanos, preservados por monges copistas e estudiosos árabes, incentivou uma valorização da razão, do estudo e da dignidade humana. A invenção da imprensa por Johannes Gutenberg, em 1450, também foi fundamental para disseminar novas ideias.
Na literatura, o Humanismo defendia o uso das línguas vernáculas — como o português, o italiano e o espanhol — em lugar exclusivo do latim, tornando o conhecimento mais acessível. Os escritores humanistas buscavam inspiração nos modelos clássicos, mas aplicavam-nos para discutir questões sociais, políticas e morais do seu tempo.
Em Portugal, o Humanismo literário é geralmente associado ao reinado de Dom João II (1481–1495) e ao início do reinado de Dom Manuel I (1495–1521), período marcado pelas Grandes Navegações e pela expansão marítima. O maior nome do Humanismo português foi Gil Vicente (c. 1465–1536), considerado o pai do teatro português. Suas peças, como Auto da Barca do Inferno (1517), misturavam crítica social, humor e elementos religiosos, retratando a sociedade de forma satírica.
Além do teatro, o Humanismo também se manifestou na poesia e na prosa, com autores como Francisco de Sá de Miranda (1481–1558), que introduziu novas formas poéticas inspiradas na Itália. As obras desse período buscavam equilíbrio entre o pensamento racional e a fé cristã, refletindo a transição para o Classicismo renascentista.
Politicamente, o Humanismo foi favorecido pelo patrocínio de reis e mecenas que viam na arte e na cultura uma forma de afirmar poder e prestígio. Ao mesmo tempo, ele preparou o terreno para mudanças mais profundas, como a Reforma Protestante e a expansão da ciência no século XVI.
O legado do Humanismo na literatura está na valorização da linguagem clara, da crítica social e do pensamento racional, influenciando escritores e filósofos por vários séculos.
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Referências
- CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.
- MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa através dos Textos. São Paulo: Cultrix, 1996.
- BURKE, Peter. O Renascimento Italiano. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
- GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 2013.
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