
O Trovadorismo foi o primeiro movimento literário da língua portuguesa, desenvolvido entre o final do século XII e o início do século XIV, durante a Idade Média. Surgiu no contexto das cortes medievais, quando a poesia era acompanhada por música e destinada à recitação ou ao canto. O marco inicial costuma ser associado ao ano de 1189, com a produção das primeiras cantigas no reino de Portugal, sob influência da poesia provençal do sul da França.
O contexto histórico do Trovadorismo está ligado à formação dos primeiros reinos cristãos na Península Ibérica, após séculos de ocupação árabe. Portugal havia se tornado independente em 1143, com o Tratado de Zamora, e vivia um processo de consolidação política e social. A sociedade era feudal, com rígida hierarquia, e a nobreza desempenhava papel central na cultura. As cortes reais eram locais de convivência aristocrática, onde trovadores e jograis animavam festas e cerimônias com suas composições.
As obras do Trovadorismo eram escritas em galego-português, língua culta da época, e reunidas em manuscritos chamados cancioneiros — entre os mais famosos, o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro Colocci-Brancuti.
A poesia trovadoresca se dividia em dois grandes gêneros: lírica e satírica. A lírica incluía as cantigas de amor, nas quais o eu poético masculino expressava amor platônico e idealizado por uma dama inacessível, seguindo o modelo do amor cortês, e as cantigas de amigo, nas quais uma voz feminina, muitas vezes criada por um homem, expressava saudade, tristeza ou alegria pela ausência ou presença do amado. Já o gênero satírico compreendia as cantigas de escárnio e cantigas de maldizer, que criticavam ou zombavam de comportamentos e personagens, podendo ser mais sutis ou abertamente ofensivas.
Politicamente, o Trovadorismo refletia a vida cortesã e a mentalidade feudal, marcada pelo poder da Igreja e pela submissão feminina idealizada nas canções de amor. Também servia como forma de entretenimento e de reforço das normas sociais da nobreza.
Entre os principais autores do período estão D. Dinis (1261–1325), rei de Portugal e grande incentivador das artes, responsável por significativa produção de cantigas, e Paio Soares de Taveirós, autor da célebre Cantiga da Ribeirinha (c. 1189), considerada a mais antiga da literatura portuguesa.
O Trovadorismo entrou em declínio no início do século XIV, quando as transformações sociais e políticas abriram caminho para novas formas literárias, como a prosa e a poesia palaciana. No entanto, deixou um legado importante, fixando as bases da lírica portuguesa e revelando a íntima ligação entre música e poesia na cultura medieval.
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Referências
- MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa através dos Textos. São Paulo: Cultrix, 1996.
- SARAIVA, António José; LOPES, Óscar. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2010.
- CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.
- GOMES, José. O Trovadorismo e a Lírica Medieval Portuguesa. Lisboa: Presença, 2008.
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