Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920, na aldeia de Tchetchelnik, na Ucrânia, então parte do recém-criado Estado Ucraniano após a Primeira Guerra Mundial, durante um período de forte instabilidade política, marcado por conflitos civis e perseguições contra minorias judaicas. Filha de Pedro Lispector e Mania Krimgold Lispector, de origem judaica, imigrou ainda bebê para o Brasil, fugindo da fome e da violência que assolavam a região. A família estabeleceu-se inicialmente em Maceió, Alagoas, em 1922, mudando-se depois para Recife, Pernambuco, onde Clarice passou a infância e iniciou seus estudos. Aos 15 anos, em 1935, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde concluiu o ensino médio e ingressou na Faculdade Nacional de Direito, formando-se em 1943.

Enquanto estudava, começou a trabalhar como redatora e repórter, publicando contos e textos jornalísticos. Em 1943, ano de sua formatura, lançou seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, que recebeu o Prêmio Graça Aranha e causou impacto pela inovação formal e pela introspecção psicológica. Nesse mesmo ano, casou-se com o diplomata Maury Gurgel Valente e passou a viver no exterior, acompanhando-o em missões diplomáticas em países como Estados Unidos, Itália, Inglaterra e Suíça. Essa experiência internacional ampliou seu contato com diferentes culturas, mas também reforçou seu vínculo afetivo com o Brasil, país que sempre permaneceu como cenário e inspiração para suas obras.

Ao longo de sua carreira, Clarice publicou romances, contos e crônicas que se tornaram marcos da literatura brasileira. Entre suas obras mais importantes estão O Lustre (1946), A Cidade Sitiada (1949), Laços de Família (1960) — coletânea de contos premiada que inclui ‘Amor’ e ‘A Imitação da Rosa’ —, A Paixão Segundo G.H. (1964), Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969), Felicidade Clandestina (1971), Água Viva (1973), A Hora da Estrela (1977) e Um Sopro de Vida (publicado postumamente em 1978). Sua escrita é marcada por um estilo intimista e reflexivo, explorando temas como identidade, solidão, epifanias e a busca de sentido.

Clarice viveu intensamente os contextos históricos de sua época. Nos anos 1960 e 1970, sob a ditadura militar brasileira, manteve colunas em jornais e revistas, muitas vezes utilizando uma linguagem ambígua e poética para tratar de questões existenciais e sociais. Embora não fosse militante política no sentido tradicional, sua literatura desafiava padrões e trazia uma sensibilidade crítica diante das estruturas sociais.

Sua saúde começou a declinar após 1966, quando sofreu um grave acidente doméstico que resultou em queimaduras e deixou sequelas. Em 1977, foi diagnosticada com um câncer de ovário já em estágio avançado. Clarice Lispector morreu no dia 9 de dezembro de 1977, no Rio de Janeiro, um dia antes de completar 57 anos. Sua morte foi amplamente noticiada e lamentada, e desde então seu nome figura entre os maiores da literatura brasileira do século XX, reconhecida por sua originalidade e profundidade psicológica.

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Referências
  • Wikipédia (pt. e en.): biografia, contexto histórico e obras (https://pt.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector)
  • Moser, Benjamin. Clarice: Uma Biografia. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
  • Gotlib, Nádia Battella. Clarice: Uma Vida que se Conta. São Paulo: Ática, 1995.
  • Lispector, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco, várias edições.

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